quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Canjas e outros pitacos...

Detesto dar canja! Canja, pra quem não sabe, é quando alguém é convidado a fazer uma participação de improviso em apresentação artística de outrem. Quando não estou a trabalho e saio para alguma balada, algum bar, restaurante ou afins, minha intenção é meramente gastronômica, etílica ou por puro divertimento. Aí te chamam pra dar uma ‘canja’, aquela conhecida ‘palinha’, e você fica sem graça e tem que ‘comparecer’ já levemente embriagado e cheio de resquícios de comida entre os dentes. É um saco! Certa vez deixei um copo de vidro cair no palco. Bem feito! Os caras terminaram o show pisando em ovos, ou melhor, em cacos. Reza a lenda que um conhecido expoente da música mineira ao ser convidado para esse tipo de ‘pegadinha’ numa churrascaria, empunhou o instrumento que o tinha sido entregue com toda a reverência e queimou as três cordas mais agudas do ‘violão de nylon’ de seu interlocutor com uma bituca de cigarro... Alguns ‘malas’, viciados nesse tipo de ocasião, ficam perambulando em frente ao palco só para serem convidados. E existem ainda os que gostam de dar canjas só pra não pagar couvert artístico...

O mundo realmente é um lugar extraordinário! Para os espíritas, o planeta terra é um exílio e em breve sofrerá novo expurgo... Para o greenpeace, o planeta pertence à baleias e árvores...Para os EUA, a Terra é o seu quintal... Para o brasileiro em geral, o mundo se resume em esperar a próxima copa e o carnaval... e tome micareta!!! Toda essa diversidade cultural e humana... Todo o caos desse mundo moderno... Quem em sã consciência consegue perceber a dimensão em que estamos metidos? Estamos todos a bordo de uma grande nave feita de lava, sedimentos, pedra, terra, água, vegetais e seres, ‘zanzando’ pelo universo afora... E tem a morte... E todas essas paisagens lindas... Nossa, viajei aqui, mas falando em paisagens me lembrei de fotografias.

Outra coisa que enche o saco, além de canja, é ficar tirando foto. O camarada vai pro show do U2, paga quase mil pratas e não aproveita nada. Por quê? Porque ficou tirando fotos em vez de apreciar a música, o clima, a grandiosidade, a vibe do show. A fotografia em si é uma profissão digna como todas as outras além de ser uma manifestação artística belíssima e necessária, mas essa masturbação de imagens proporcionada pelos avanços tecnológicos e seu fácil acesso já passou da conta, ao menos pra mim. Hoje em dia, qualquer um acha que é fotografo e fica pentelhando a tudo e a todos, a todo momento. Outro dia estava assistindo a cobertura do velório de um conhecido político brasileiro pela TV e vi estupefato alguns imbecis com seus telefones celulares fotografando e filmando o velhinho no caixão com a justificativa de ‘guardar uma recordação’ do fulano! Que souvenir macabro é esse?! Lembranças de momentos felizes com a família, com amigos e situações especiais em forma de fotos são deliciosas e úteis na medida certa, mas o principal é guardar aquela sensação na alma e acreditar que estas emoções estarão sempre ao nosso alcance desde que queiramos. Isso sim é sonhar! Pelo amor de Deus, não me chamem pra ver fotos de viagens, books, fotos de formatura, batizado, festa de 15 anos... A maioria das fotos são como flatos: só aguenta quem fez! Quer coisa mais nojenta que aquela simbiose entre os paparazzi e aspirantes a celebridade? A relação entre moscas e detritos fecais é bem parecida...

Essa ânsia toda tem um grande responsável: o mundo virtual! Não tão transcendental como o real citado algumas frases atrás, mas não menos incrível. Um mundo novo por trás das telas... Onde todos somos mais corajosos, mais inteligentes, mais bonitos... Todos queremos nossos quinze minutos de fama... Todos achamos que merecemos ser famosos! Talvez por isso tantas canjas e fotos... As pessoas correm pras redes sociais e compartilham, curtem, opinam, namoram... Independente de terem ou não o que falar, o que mostrar. Quem disser que isso é democracia não tem noção de como as coisas podem ser manipuláveis na mídia virtual! Estamos deixando de ser pessoas reais e nos transformando em ‘logins’... É mais cômodo! Mas não deixa de ser fascinante, eu admito! Sabe que pode ser muito útil às vezes?! rs... Essa metamorfose quase Kafkiana foi intuída por Aldous Huxley algumas décadas atrás com sua obra-prima... Será esse o ‘admirável mundo novo’? É a vida imitando a arte mais uma vez. E a filosofia na espreita... Há poucos dias ouvi um ignorante dizer que a filosofia na escola é desnecessária. Daqui a pouco a música e a literatura também serão!

Como estou ‘antenado’, vou resumir da mesma forma minha despedida, utilizando-me do mesmo principio da inutilidade que caracteriza a maioria absoluta das manifestações virtuais: @vouaobanheiroagora#fato!