sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DO CAOS À LAMA



Deu errado, admitamos. O Brasil, desde a sua fundação, é um equívoco.

Refugiamo-nos em pequenas ilhas de bonança, mas vivemos acossados por oceanos gigantescos de tempestade. Sempre assim, há tempos.

Devemos considerar a hipótese de que o problema, em geral, é a raça humana. Mas, no mesmo planeta, existem brasis, dinamarcas, sírias, coréias e haitis diversos. Então, talvez tenhamos de reconhecer que alguns de nós, humanos, são mais capazes que outros. Ainda assim, a conta não fecha. Literalmente. Afinal, estamos vagando, juntos, universo afora.

Embora aparentemente não resolva, que tal nos aventurar a pensar livremente por alguns breves instantes?

Se conseguirmos expandir nossa capacidade de observação, vamos encontrar semelhanças curiosas entre alguns espécimes muito em voga atualmente: políticos, jihadistas, mega empreendedores... São ousados, sagazes, frios... Se forçarmos a barra um pouquinho, nossa amostragem aumenta. Certamente, poderíamos até nos reconhecer nesse balaio de gato. Mas, devido ao vício endêmico que temos em tirar o nosso da reta, sugiro nos ater inicialmente aos ‘escolhidos’. Pau neles.

Em algum momento da história e fazendo esforço para analisar o cenário pelo lado bom, os citados tentaram fazer a diferença. Com sua ideologia, energia, ufanismo, perseverança e munidos de outros adjetivos, houve um tempo em que essa turma quis mudar o mundo para melhor. Cada um a seu modo, óbvio. Alguns passos, reconheçamos, foram dados rumo a um norte positivo. Afinal, não existe nada de errado em buscar uma sociedade mais justa, equilíbrio espiritual ou desenvolvimento (com sustentabilidade). Num dia remoto de um novembro qualquer existiram boas intenções. Mas nessa equação habita um fator que sempre subverte resultados... O bicho-homem!

Alguns foram ficando ricos, outros pobres. Causas foram ficando mais particulares que plurais. Alguns deram sorte, milhares tiveram azar.  Vieram as insatisfações e interesses diversos. Em suma, onde existe a tríade macabra formada por ‘homem, dinheiro e poder’, existem problemas. Indissolúveis. Lamento.

Eles não vão sossegar enquanto não destruírem tudo. É o instinto humano.

Mas eis que surge a pergunta tão sutil quanto um murro no queixo: quem faria diferente mediante as mesmas provações e conjunturas?
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Não se ofendam, meus caros, mas quase ninguém é inocente. Tamanha estupefação é hipocrisia. Via de regra, tanto o Brasil quanto o mundo funcionam dessa forma desde que se tem notícia. Onde todos estávamos até agora?

Quem nunca votou naquele que ‘rouba, mas faz’? Quem nunca foi preconceituoso e radical? Quem nunca quis usufruir dos benefícios de uma grande empresa por perto (mas não no próprio quintal)? Quem nunca?

Contradições.

Nossa velha ganância está cobrando seu preço.  Nosso secular egoísmo nos cegou. Nosso tradicional jeitinho é uma farsa. Jeitinho nojento.

O furor da mídia e as hashtags passam. O que fica?

Ficam corpos sedimentados não encontrados nas encostas de rios mortos.

Ficam meras lembranças de corpos destroçados pelo terror em ruas iluminadas.

Ficam corpos moribundos em macas improvisadas.

Ficam os corpos. Lá e cá.

Desolação.

Também não existe conclusão, pois cada um tem seus motivos, com o perdão do lugar comum. Até daria para suspeitar que uma mudança seria possível a partir do nosso âmago, mas é demais custoso para o momento admitir nossa porção de culpa. Será que conseguiremos fazer algo além de selfies e desabafos?

Que país é esse? Que mundo é esse em que vivemos? Quem somos?

Parece que restaram algumas frases visionárias apropriadas para o momento... Quem dera músicas bastassem para aliviar a alma.


Da lama ao caos, do caos à lama.