Minha opinião talvez seja
irrelevante. Se eu soubesse exatamente o que fazer para alcançar o ‘topo’ quem
lá estaria seríamos NÓS e não ELES. Mas o que vou dizer é o que vivencio hoje
e o que vivi nesses vários anos de luta lidando com música diuturnamente.
Quase todos os dias sou interpelado em redes
sociais por pessoas querendo me apresentar músicas, me pedindo opiniões sobre
trabalhos artísticos, sugestões, etc. . Fico orgulhoso, procuro ouvir tudo,
conversar com a galera, mas reitero: Pouco posso fazer! Se soubesse a ‘fórmula’
já a teria usado em benefício próprio. Hoje presencio o caos no mercado musical
e honestamente não tenho a menor ideia de como isso possa mudar efetivamente.
Há alguns anos li uma entrevista do Humberto Gessinger sobre esse tema. Ele dizia
a quem estava começando a se lançar na música no Brasil para rever suas
expectativas e não esperar muito desse meio. Nas entrelinhas entendi que ele
sugeria levar a coisa meio como hobby e o que viesse seria lucro. Na ocasião
achei que aquilo era recalque de quem já não frequentava a mídia como em outras
épocas, mas hoje admito que ele estava com a razão. Atualmente eu afirmo que a
coisa está pior ainda, aliás, bem pior... No fundo, quem sabe até onde podemos
ir somos nós mesmos! Não existe ninguém capaz de nos demover de um sonho, de
algo que sabemos que está vivo dentro de nós e que só você pressente que é
possível. É essa a sensação que te sustenta através dos anos e você não tem
muito mais que isso para se apegar. Quem acha que pode ‘chegar lá’ e não
desistiu sabe o que estou dizendo! Mas a realidade é dura, muito dura...
Dia desses, um jovem guitarrista
me perguntou insistentemente o que deveria fazer para que sua banda conseguisse
mais demanda e eu, num momento complicado e de modo abrupto, disse algo duro de
se ouvir: ‘Venda sua guitarra e vá fazer outra coisa’. Espero que ele não
tenha me levado a sério. Senão a coisa morre de vez... Cada um tem que saber
até onde pode ir e não cabe a mim opinar nessa questão. Efetivamente, não há
muito o quê se fazer na atual circunstância. Vivemos à espera de milagres e
eles às vezes batem à nossa porta quando menos esperamos. E isso acontece de
vez em quando, lhes asseguro. Existem momentos mágicos em que tudo sai da sua mão
e parece obedecer a uma lógica invisível e inexplicável. Devemos estar
preparados! Mas, via de regra, é o trabalho, o suor, a garra e às vezes o
talento, que realmente fazem a diferença. Para quem, ainda assim, quer o meu
‘conselho’, digo: Busque, não espere! Trabalhe, não se iluda! Persista, não
pare um minuto sequer. Quem sabe?!
AS ENGRENAGENS DO MAL
O meio artístico, assim como o
futebolístico e o político, é um antro de picaretagem sem fim. Bom seria se o
que importasse fosse apenas a arte em si, mas esse desejo é de uma ingenuidade
letal. A maioria absoluta das pessoas envolvidas nesse meio já foram
contaminadas pelo veneno que parece ser a característica natural de ambientes
onde o poder, os egos e o dinheiro são fatores proeminentes. Boas pessoas são
minoria, mas também existem e quando elas cruzarem sua trajetória, guarde-as!
Considere isso um prêmio, uma benção e jamais se afaste delas. São elas que
propiciam as grandes viradas de jogo. Essas boas almas não são tão apegadas às
questões rasteiras como a maioria é... Tem um momento em que você não consegue
mais seguir em frente por seus próprios meios e se nesse instante alguém ‘do
bem’ resolver te estender a mão, considere-se uma pessoa de sorte. Nessas horas
o invisível atua... Amigo é a palavra que você mais ouve, mas amizade é o que
você menos vê. Portanto, se você conseguir construir relações leais e elevadas,
seu fardo será um pouco mais leve.
Antigamente quem alimentava o
mercado da música eram as gravadoras. Não eram (e não são) nada ‘santas’, mas
ali existiam diretores artísticos comprometidos SIM com a possibilidade de um
bom retorno financeiro para a empresa, mas também com um nome ‘artístico’ a
zelar. Ou seja, o camarada não colocava qualquer porcaria para tocar no rádio,
pois ele queria manter o status de descobridor de talentos reais que
propiciariam lucros para a empresa e ainda trazer mais credibilidade para ele mesmo e para
as ações comerciais/estratégicas das gravadoras. Não podemos esquecer que
isso é um negócio como outro qualquer e todos tem que pagar suas contas. Não é
esse o problema! O meio musical não é e nunca foi nada filantrópico e nem tem
que ser. Mas quem reclamava da época em que as gravadoras gerenciavam o
esquema musical brasileiro hoje deve estar tão assustado quanto eu.
Após a ‘falência’ das gravadoras
nacionais e multinacionais pelos motivos sabidos (pirataria, caos virtual, queda
vertiginosa nas vendas de CDs, etc.) e pelos motivos ‘ignorados’ (gestão
incompetente e fanfarrista, preguiça em descobrir novas estratégias comerciais,
acomodação executiva, etc.) surgiu uma enorme lacuna nesse mercado. Alguém
tinha que preenchê-la... Eis que surgem os ‘empresários’!
OS EMPRESÁRIOS E A MÚSICA
Os maiores astros do mundo da
música, em parte, foram construídos graças aos empresários visionários e
competentes. Competente não quer dizer ‘bonzinho’... Mas o compromisso número 1
do empresário é o lucro. É errado isso? NÃO! Se amanhã a modalidade
‘assassinato ao vivo musicado’ começar a gerar bons dividendos o empresariado vai
conseguir empurrar isso goela abaixo da massa. Exageros à parte, o empresário musical quase sempre não está nem aí para a qualidade do produto que ele quer vender. Ele quer é
vender, exaurir ‘aquilo’ até onde for possível e ponto final. Meus cumprimentos
aos empresários que ao menos vislumbram algo lucrativo antes dos outros e
trabalham honestamente. Isso porque, a maioria destes que atuam na área
musical, se concentram apenas na repetição de fórmulas e isso sim é um ‘desserviço’
cultural à sociedade. Mas...
Com a lacuna deixada pela
‘falência’ das gravadoras, os empresários e escritórios musicais entraram de
sola nesse mercado. As rádios (que são as principais mídias da engrenagem
musical) perderam os ‘benefícios’ propiciados anteriormente pelas gravadoras
atualmente quebradas e foram ‘adotadas’ pelos empresários/escritórios particulares. Se antes havia um diretor
artístico de gravadora para filtrar ‘um pouco’ o que iria às prateleiras das
lojas de discos, agora quem toca nas grandes redes de rádio é quem tem o combustível ($) para lá estar. Ou seja, o empresário, através de sua influência
e poderio econômico (algumas vezes de origem duvidosa...), põe o seu artista na
mídia (que em geral segue o mesmo trâmite das rádios), seja ele talentoso ou
não. Aí o lema da atualidade é o seguinte: SALVE-SE QUEM PUDER!
Na verdade, todo esse processo é
discutível em sua base, pois se os principais canais de mídia (rádios, TVs,
etc.) são concessões governamentais, teriam que ser mais democráticos. Música
virou anúncio, propaganda e os espaços na mídia são vendidos como tal. É óbvio
que não são todos os meios que se portam de maneira tão voraz. Ainda vemos
coordenadores e donos de rádios com comprometimento com a qualidade e de bom
senso. O problema é que com a lavagem cerebral imposta à massa, as próprias
pessoas, consumidores de ‘música’, o ‘respeitável público’, passam a consumir e
exigir, tal como dependentes químicos, esses ‘produtos’ na mídia. Caímos todos
na mesma armadilha. Tornamo-nos reféns dessa engrenagem do mal.
Nesse cenário nefasto em questão,
o que não faltam são maracutaias. É comissão pra isso, uma ‘beiradinha’
pra aquilo, o amigo do fulano que tem o contato do sicrano que vai custar alguns reais. Os roubos descarados, os que se fingem de bobos... Os ‘ladrões de
galinha’, os pilantras de médio porte, os tubarões que podem te destruir num
piscar de olhos... Junte todas essas dificuldades à tradicional malandragem
nata do brasileiro, a uma preguiça intelectual reinante e às limitações
espirituais da maioria dos seres humanos e o que se apura é o CAOS!
O curioso e digno de menção, é
que todas as pessoas que ajudaram EFETIVAMENTE ao Scarcéus (banda da qual faço
parte como compositor e vocalista há 13 anos) com a viabilização de programas
de TV de expressão, trilhas que nos possibilitaram divulgar nossa obra, parcerias de renome artístico e midiático, parcerias empresariais, execução
real e permanente de nossas músicas em algumas rádios, não nos cobraram um
centavo por isso. A esses idealistas, o meu sincero agradecimento!
QUAL É O SOM DO BRASIL?
Do ano de 2005 (talvez um pouco
antes) até hoje, com as gravadoras falidas e os canais midiáticos do mercado
musical sem as mamatas dos tempos das vacas gordas, surgem avassaladoramente
os grandes escritórios e empresários do SEGMENTO POPULAR para ‘adotar’ esse
dito mercado da música no Brasil.
O Brasil, inegavelmente, evoluiu
social e economicamente na última década, o que fez com que a histórica
diferença entre ricos e pobres fosse atenuada. O que é louvável. De maneira
resumida, se excluirmos 10% da população brasileira ‘rica’ (que vive uma
realidade quase paralela, com outros anseios e oportunidades.) e 10% da
população brasileira ‘pobre’ (cujo foco, infelizmente, se resume em
sobreviver.) temos um público de 160 milhões de pessoas se esbarrando por
aí... Consumindo mais ou menos as mesmas coisas, indo a lugares que se
equiparam, com expectativas semelhantes. Essa massificação tornou o Brasil
mais homogêneo, mas fez com que o nível médio cultural geral diminuísse justamente
numa época em que estilos até então ignorados pela classe média se tornassem a
última MODA. Essa oportunidade não passou em branco para empresários e artistas ‘populares’ que, com uma estratégia
agressiva e competente, conquistaram o coração e a mente da maioria absoluta da
população brasileira.
Quem hoje for aos shows de
primeira linha da música sertaneja, do axé, do pagode, do forró, assistirá a
eventos de produção de nível internacional. Antigamente a qualidade
‘estrutural’ era premissa dos eventos de rock! Atualmente não. Gostem ou não, o
segmento popular é hoje quem dá as cartas nesse business.
Não adianta empunhar a guitarra
com rancor e berrar ao microfone em shows de quermesse para meia dúzia de
pessoas que ‘o rock´n roll é que é inteligente’ e quem sobrou é idiota.
MENTIRA! Quem frequenta essas festas populares atualmente são engenheiros,
médicos, juízes, dentistas, formadores de opinião, os próprios artistas... As
pessoas, de modo geral, querem se divertir, entreter-se! Hoje em dia, essas respeitáveis
pessoas (não estou sendo irônico), após tomarem umas e outras, dançam o tal do arrocha (um subgênero do forró misturado ao tecnobrega) sem o menor
constrangimento. De certa forma, o Brasil se assumiu popular.
O Brasil, por sua pluralidade
racial e cultural, merece SIM ser mais democrático musicalmente, pois nosso
povo está propenso a gostar de qualquer coisa. Não apenas no sentido negativo
de ‘qualquer coisa’, mas no fato de não ter preconceito em conhecer novas
propostas musicais e artísticas. Mas isso tem que chegar ao público, senão...
Quem se arrisca a dizer qual seria O SOM genuinamente brasileiro? Ou alguém
acha que o país que gerou ‘A Jovem Guarda’ do Roberto Carlos, Raul Seixas, Os
Mutantes, Renato Russo e sua ‘Legião Urbana’, Cazuza, Sepultura, Nação Zumbi, O
Rappa e tantos outros grandes talentos dessa vertente musical, não pode ser
considerado também o país do POP, do rock...
Nenhum estilo musical é superior
ideológica e artisticamente a outro. O que existem são preferências! Mas preferências
podem ser incitadas. Através da educação, da cultura, da diversidade, da
MÍDIA...
Talvez seja um exagero cobrar uma
postura cultural mais inteligente de uma população que sempre viveu à margem
num país que nunca se importou muito com os seus. Mesmo não querendo, a gente
acaba falando de política. O gosto da massa, por vezes sábio, às vezes
duvidoso, é a vingança contra quem sempre lhe virou às costas.
O mercado musical muda de tempos
em tempos, mas não devemos esperar mudanças drásticas. Estamos quase à espera
de um milagre.
MAS E O ROCK? COMO É QUE FICA?
Como disse no início, sei lá...
Tem gente que acha que a solução
é se meter dentro de guetos para um público ‘selecionado’. Respeito essa
postura, mas pra mim não basta. Ficar tocando cover em bar de rock com neguinho
chapado gritando ‘Ozzy’, ‘Iron’, ‘System’, ‘AC/DC’ e mesmo ‘Raul’, já encheu o
saco! Adoro esses artistas (são ícones e meus ídolos) e frequento esporadicamente esses ‘inferninhos’, mas, se não houver música autoral na parada, o futuro é
ainda mais negro. Aliás, acho quase esquizofrênico o sujeito ter uma banda
cover dos ‘Bs’, imitar os tiques dos ‘Bs’, ter os mesmos instrumentos dos ‘Bs’,
o mesmo cabelo dos ‘Bs’ e se vangloriar de ser o melhor cover dos ‘Bs’ de sua
cidade. Isso é ‘autoanulação’! Para celebrar os ‘Bs’ é só colocar um cd (ou
um vinil.) pra tocar, pois a obra dos ‘Bs’ é eterna! Mas os ‘Bs’ não vão mais
voltar... Que surjam novos ‘Bs’! O cover pode servir para que as pessoas associem
uma proposta nova a um artista que elas já conhecem. Versões e adaptações são
uma boa forma de mostrar seu estilo para o público. Até porque, se você tem a
chance de se apresentar numa exposição agropecuária no interior do Brasil para
10 mil pessoas e toca um repertório inteiro de inéditas, vai todo mundo
embora pra casa, por melhor que seja o seu som. Nem a Ivete Sangalo toca só
inéditas em seus shows... Tem que ficar atento com esse tipo de coisa. O
radicalismo é contraproducente.
Outra coisa... O ‘rockeiro
brasileiro’ é, em grande parte, preconceituoso. Não que o camarada tenha que
engolir qualquer lixo, mas é só alguém começar a cantar em português que ele
começa a se contorcer todo. Ele mete o pau em tudo, diz que falar de assuntos
‘delicados’ como AMOR é brega, mas quando quer transar com alguém fora de sua tribo grava aquela coletânea LOVE METAL, repleta de ‘Love ’ para sua possível vítima e acha o máximo! Ou seja, ‘Eu te amo’ não pode, mas ‘I Love you’
pode.
Vão me dizer também que não
surgiu ninguém no Pop/Rock nos últimos
anos no Brasil... Fato! Mas surgir como? A grande mídia está alugada para
outros gêneros. Algumas novas bandas foram meio que apadrinhadas pela crítica
especializada, mas de tão cults, não alcançam os entremeios da real vida
musical nacional. Quando não são ‘intelectuais’ cuja música tem aura de
projeto paralelo, são ‘pós-adolescentes’ barulhentos (no sentido técnico) com
30 pedais, mas que não aprenderam ainda a tocar e a cantar afinado. Aí o povão
assusta! rs... Vão me dizer que o rock não é pro povão... Como assim?
Experimente tocar uma versão de um hit dos Raimundos e veja se a massa não vem
abaixo! Se o rock até pouco tempo atrás era POPular talvez um dia possa voltar
a ser.
Tenho visto algumas bandas
consagradas do pop-rock nacional reclamarem da atual situação. Não deveriam!
Várias destas foram a última geração de bandas financiada pelas ‘majors’. A
retração do mercado pop se deve, em parte, à postura dessas bandas que não
souberam ou não quiseram fazer com que o público para esse estilo crescesse.
Ficaram olhando para o próprio umbigo e não pensaram corporativamente... Quem
já tentou ‘abrir’ shows dessas bandas sabe do que estou falando. Em tese, se
vários grupos do seu segmento obtém sucesso, o seu mercado tende a aumentar.
Então, dar uma força para quem está começando não é só altruísmo, é estratégia
de mercado! Mas aí surgem os egos... O ‘astro do rock’ parece ter o ego ainda
mais inflado que as demais estrelas. E toda arrogância será castigada...
A MTV, que por muito tempo ditou
as regras da cena pop no Brasil, e que poderia funcionar como uma alternativa
numa época de ‘trevas’, resolveu dificultar ainda mais o processo se afastando
abissalmente do que pode ser considerado viável em termos de música no Brasil.
Tanto que outras ‘emissoras musicais’ que se mostraram mais sensíveis ao que
acontece de fato no país, passaram a ter mais relevância nesse meio. Se você
liga a TV na MTV e olha pela janela da sua casa notará uma completa desconexão
entre as partes... Com aquelas ‘figuras’ e sua programação interplanetária, a
emissora parece querer se afastar irremediavelmente da realidade cultural e
mercadológica do Brasil. Na minha opinião, essa postura irônica baseada no
‘stand up’ e programas cheios de blá,blá,blá são uma tortura e me parece que
foi justamente onde a MTV tentou entrar mais em sintonia com o que está
acontecendo (de ruim) nas TVs abertas. Esse modelo estilo ‘Pânico na TV’ é
ultrapassado, repetitivo e as músicas desapareceram até do antes badalado Top 10 da emissora (a música quase nunca
rola por inteiro...). Agora parece que compraram a briga do RAP... Vamos ver o
que acontece. A vanguarda e o romantismo são louváveis, mas ignorar a maior
parte da realidade musical nacional é burrice. As pessoas que estão enfurnadas
nas grandes metrópoles brasileiras e que podem fazer algo PRECISAM tirar esses
‘traseiros refrigerados’ de seus escritórios às moscas e reconhecer que nós não
estamos na Europa e nem nunca estaremos. Existe um país gigantesco fora das
capitais doidinho para gostar de alguma coisa bacana, sem apelações.
Movimentem-se ou morram.
A cena alternativa não basta. É
vangloriada por alguns, mas a ‘panelinha’ também rola solta e com um agravante:
Sem dinheiro! Quem não tiver papai rico tá fodido (quase sempre)! Os grandes festivais
são uma boa maneira de se chamar a atenção novamente para o gênero, mas essa
estratégia de priorizar ‘bandas gringas cabeça’ que nem em seus próprios países
são relevantes não ganham eco por aqui. É por isso que quando o Rock in Rio se
dispõe a abrir espaço para outras tendências deve ser parabenizado. É uma ótima
sacada! Contextualizar novamente o rock em meio à cena musical e mercadológica
do país é uma maneira de fazer com o que o grande público se atente para outras
possibilidades devido à repercussão que essa ‘marca’ tem. A galera do metal não
aprova a ideia... Tudo bem! Que compareça só nos dias de suas atrações
preferidas.
Muito se fala que a internet é a
salvação da música... Eu não acho. A internet é apenas uma ferramenta que pode
ser usada de maneira útil. A banda tem que ser real! Virtualmente a gente vê
todo dia um novo popstar que não faz
show em lugar nenhum. Os números de views
no youtube e vários outros
indicativos de ‘sucesso’ na rede mundial podem ser forjados... Raramente alguns
desses fenômenos virtuais eventuais conseguem dar sequência na carreira. Essas
fórmulas mirabolantes são tiros nos pés. E outra, tem que saber tocar ao vivo,
ok? Em estúdio, com as possibilidades atuais, qualquer um pode ser ‘virtuose’.
Darei exemplos de estratégias bem
sucedidas... Se você vai passar férias no litoral da Bahia, dezenas, centenas
de barraquinhas e ambulantes vendem coletâneas variadas de Axé Music. Dizem alguns
que várias dessas bandas e artistas, até de renome, se ‘autopirateiam’ com o
intuito de lucrar mais (é óbvio!), mas também de divulgar seus lançamentos para
o resto do país. Resultado: Hoje em dia as ‘micaretas’ acontecem no Brasil
inteiro, o ano inteiro. Se você tenta comprar um show do artista sertanejo do
momento, o escritório dele quase te obriga a levar mais uma ou duas atrações do
mesmo grupo empresarial. Aí o mercado cresce... Parabéns pra eles!
Se a base de tudo é o equilíbrio,
por que não tentar aplicar essa filosofia no pop, no rock? Talvez seja utopia,
mas é o que me resta dizer ou fazer... Quem conseguir apresentar uma proposta
musical que não constranja a inteligência de quem é mais exigente, mas que
também não se afaste do que o povão está preparado para consumir, poderá ser
inserido nesse contexto atual de mercado, acredito eu. Acho possível algo
simples (mas não medíocre...) ser absorvido por todas as tribos sem maiores
sofrimentos. Afinal, algumas das melhores canções já compostas, as mais
relevantes talvez, são SIMPLES. Ou quem sabe não surja alguém com uma proposta
tão extravagante, tão absurda, tão politicamente incorreta que de tão
improvável se torne unânime e que rompa com tudo que estamos presenciando por
aqui... Algo tão imponderável quanto o gosto pessoal de cada um.
Na música, na arte, tudo pode! Aliás,
quase tudo... Que seja verdade, ao menos.
O RESUMO DA ÓPERA
O artista é um misto do que
esperam dele, um pouco da realidade em que vive, um pouco do que ele deseja ser
e um pouco do que ele realmente é. Na verdade, nós músicos estamos à distância
de uma canção para realizarmos todos os nossos sonhos. Algo que vá fazer a luta de toda uma vida
valer a pena. Temos que nos agarrar a isso, pois senão tudo estará perdido
para sempre. Se vamos ficar famosos ou ricos, é outra história. Se você
conseguir fazer com que suas ideias alcancem as pessoas, a saga terá valido a
pena. Sejam mil ou 1 milhão de fãs, não importa. Seu som tem que
convencê-los! A única (grande) diferença causada pelo número de admiradores é
sua conta bancária... rs. Pois a inteiração com público satisfaz do mesmo jeito
e traz sentido à vida de quem lida nessa seara, seja ele de que tamanho for.
Não que sejam justificáveis todos esses chiliques de artistas famosos, mas as pessoas em geral não tem a menor
ideia do que seus ídolos passam e passaram para chegar onde estão... Tanto os
astros super conhecidos quanto os meros mortais são
submetidos a um massacre psicológico permanente e é preciso ter estômago para
‘segurar a peteca’! Todo dia é uma rasteira, uma bola nas costas, uma
picaretagem... O meio musical e tudo que o cerca é insano e fugaz. O público te eleva a alturas inimagináveis, mas também sabe ser cruel... Hoje entendo
(embora não concorde) porque neguinho joga TV pela janela de hotel ou porque
às vezes reage mal a determinadas interpelações... Quando tudo vai bem o que
não faltam são sanguessugas, tapinhas nas costas e os ‘papagaios de pirata’
para puxar seu saco. Mas quando o ‘bicho pega’ é que você sabe com quem pode
contar e são poucos... Acreditem, é quase um clichê, mas por trás dos
personagens existem pessoas. Se o sujeito ‘chegou lá’ artisticamente, por pior
que possa parecer, ele deve ter merecido.
Você, quando opta pela carreira
musical, não imagina que a música é apenas a ponta do iceberg. Se realmente quer viver do seu som, aprenda a ser
empresário, relações públicas, a se fazer de bobo, cego, surdo, burro...
Infelizmente, às vezes a música é o que menos importa e quando você percebe
isso a decepção é indescritível! Mas a gente, quando quer muito, se adapta. Não
totalmente... Mas dá pra ir levando. Só não sei até onde, até quando... Se
você, em algum momento, não tiver a absoluta certeza de que seu caminho é a
carreira musical, nem entre nesse jogo. Para ter algumas horas de felicidade no
palco você tem anos de pancadaria fora dele.
Mas será que vale a pena? VALE!
Qualquer sofrimento desaparece quando as pessoas estão cantando suas músicas
nos shows. É por isso que ainda estamos aqui! Quando alguém se dirige a você e
diz que aquilo que você escreveu (no banheiro da sua casa...) mudou a vida dele
num momento de revés, você percebe o sentido de sua própria existência. É
mágico, lindo! Às vezes crianças, idosos, pessoas que eu jamais imaginaria
atingir me surpreendem mostrando que entenderam meu propósito e que minha obra,
da maneira mais improvável, lhes foi útil... Nessas horas a vida se enche de
luz e nos municiamos da energia necessária para seguir em frente.
Nesse desfecho, permito-me colocar
em voga algumas questões mais pessoais... Afirmo que procurei descrever
fielmente todas as impressões sobre tudo o que minha experiência na música me
ofereceu até hoje. É difícil ser totalmente isento quando se está no olho do
furacão... Mas apesar de toda a dificuldade que é levar uma vida musical digna,
sendo um artista de ‘pop-rock’ (inclusive o próprio termo é
inconclusivo) na atual condição em que o mercado musical brasileiro se
encontra, este artista acaba encontrando, bem lá no fundo, resquícios de
otimismo... Quem não teve o sonho de mudar o mundo com sua música que me atire
a primeira pedra! O resumo da ópera alguém já disse em algum lugar: Nós não
precisamos de muito... Nós precisamos, nós merecemos um pouco MAIS.