Numa bela manhã qualquer, você vai pegar um voo de Barcelona para
Düsseldorf. Você está feliz e afasta aquela ideia que sempre vem à
cabeça quando pisa num aeroporto: “Será que essa merda vai cair comigo
dentro?”
Você está a trabalho, ou a passeio, ou numa excursão, ou vai curtir
algum show bacana, não importa. Você entra no avião, é cumprimentado
pela tripulação com aqueles sorrisos formais e uma simpatia meio
artificial, mas faz parte. Qual o problema?
Você vai voar numa companhia alemã, robusta e organizada, mas ainda
assim, quando assume o assento e afivela o cinto de segurança, aquela
ideia volta a te rondar e você questiona a tecnologia pensando: “Como um
bicho desse tamanho pesando toneladas pode se sustentar no ar?”
O avião decola. Pela janela você vê a Europa de cima. Toda cultura,
toda história, o mundo foi pensado ali. Lá embaixo aqueles vilarejos
bucólicos e os alpes franceses se apresentam como uma dádiva da
natureza. Tudo parece bem e sua vida volta a fazer sentido por uns
breves momentos. Você tem planos.
Você talvez seja músico e por vezes já pensou: ”E se um dia algum
maluco resolver me dar um tiro em cima do palco?” Mas, essa
possibilidade é tão remota quanto um avião despencar do céu. Seria quase
um prêmio de loteria às avessas. Você repudia aquela ideia novamente.
De repente, você percebe que alguma coisa pode não estar certa...
Pelo monitor a sua frente você constata que a altitude da aeronave
começa a diminuir vertiginosamente. Você indaga: “Por que estariam
batendo na porta da cabine do piloto e gritando dessa forma?”
À sua volta, olhares atônitos cruzam o seu. Você conclui o que está acontecendo.
Em outras ocasiões você já tinha conjecturado se os pilotos do avião
em que estava tinham dormido bem, ou se estavam em paz com seus
‘demônios’. Afinal, ali em cima você não tem muita escolha. Nem saída.
Tudo vem à tona nos momentos finais.
Você pensa na sua família, naquela música, em tudo que poderia ter sido e não foi.
Após uma pequena prece e com uma lágrima brotando do olho esquerdo, você chega às suas três últimas conclusões nessa vida:
“Que porra de mundo insano é esse em que vivi!”
“Todos estamos nas mãos de malucos de toda ordem”.
“Hoje não foi meu dia de sorte”.
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