sexta-feira, 11 de novembro de 2016

SEM HERÓIS



Trump, Putin e a possível futura presidente da França, Marine Le Pen, tem em comum um discurso radical baseado na proteção dos interesses de seus países. Estariam errados?

Al-Qaeda, Estado Islâmico, Boko Haram, são organizações terroristas com ações baseadas em suas filosofias e crenças. IRA, ETA, FARC, embora sejam grupos respaldados pelos nichos em que surgiram e radicados no mundo ocidental, também são tidos como facções terroristas. Em tese, lutam pelo que acreditam. Estariam errados?

Agrupamentos político-ideológicos, em diversas partes do planeta, sequestram, pilham, vandalizam e matam em nome de uma utópica melhor condição de vida para os que dizem representar. Estariam errados?

O certo e o errado, em inúmeras situações, é questão de ponto de vista.

O mundo acompanha atônito um novo êxodo direcionado à parte mais desenvolvida da Europa e teme uma futura deportação em massa dos imigrantes ilegais nos EUA. Esse mesmo mundo ainda abriga conflitos milenares no oriente médio e se constrange com o caos instalado há vários séculos no continente africano.

Uma sensação estranha atormenta. Algo nos leva a crer que mundo atual esteja fora do eixo, mas a indagação que vem à tona é se esse eixo algum dia existiu.

Este foi um ano eleitoral importante nos mais recônditos lugares. É perceptível e curioso o fato de que os novos eleitos, seja ele o presidente dos Estados Unidos ou o prefeito de Conselheiro Lafaiete/MG, tiveram muito em comum nos seus discursos: Mudança, emprego, crescimento, proteção do território, saúde, educação... Aliás, essas são temáticas clichês predominantes em todas as campanhas eleitorais, recorrentes nas mais variadas vertentes políticas.

O que chega a ser engraçado, para não dizer patético, é que sempre após o pleito, todos, tanto lá quanto cá e acolá, afrouxam o tom e dizem que o que foi dito não era bem daquele jeito e que o que na campanha parecia ser factível passa a ser árdua tarefa, como um truque mandrakiano ao avesso.  

Em política, o importante é vencer. Do jeito que der. É o poder pelo poder.

Falando de Brasil, não existe solução a curto prazo, nem milagres. Fará muito quem conseguir realizar o básico, sendo austero em sua administração e não transferir às próximas gerações a conta por devaneios politiqueiros irresponsáveis.

Ao constatarmos que vários dos escolhidos para comandar nossas cidades, estados e nações fundamentaram suas propostas em populismo, simplismo, mentiras, hipocrisia; ou são fantoches de oligarquias, demagogos ligados à clubes de futebol, fanáticos religiosos, estrelas midiáticas ocas; ou são ex-condenados por crimes de toda ordem, corruptos, enfim, quando os eleitos são pessoas com esse DNA, precisamos considerar que a humanidade talvez tenha dado alguns passos para trás.

Ainda não se pode cravar que o Fator Trump seja um mal a ser temido. Seria incorreto nominá-lo como o demônio da moda, até porque ele ainda nem começou seu legado presidencial.  O problema é maior, muito maior.

A discórdia é endêmica e universal. De tempos em tempos somos acometidos por tsunamis sociais, terremotos políticos, pragas bélicas e isso parece não ter fim. Cada povo com seus karmas, de maior ou menor relevância, mas ninguém escapa. Estamos andando em círculos.

A sensação de desalento vai perdurando, era após era.

Talvez devamos correr para as colinas, abraçar os nossos, desligar os celulares e esperar por uma intervenção divina... Ou quem sabe por algum desses bolsonaros da vida.

Não há nenhum lugar seguro agora.

 



quinta-feira, 10 de março de 2016

A CASA DA MÃE JOANA, um ‘House of Cards’ à brasileira

Lula caiu, Dilma caiu, o PT caiu, o Brasil caiu. Acabou, companheiros.

Desocupar as cadeiras agora é uma questão de tempo. Se não for por impeachment ou cadeia, será pelo voto.

Era para ter sido perfeito, mas o jeitinho brasileiro não deixou. Ah, essa nossa eterna mania de dar errado...

Sinceramente, achava que a Dilma era muito mais incompetente que desonesta, mas seu muy amigo Delcídio e outros delatores estão teimando em me contradizer. A não ser que os camaradas (de até outro dia mesmo) tenham perdido toda credibilidade e prestígio que pareciam ter, essas delações encerram a era PT no comando deste projeto de país, mais conhecido como Brasil.

Quanto ao Lula, os motivos pelos quais ele foi fisgado denotam apenas aquela certeza que os poderosos do Brasil tem (ou tinham) de estarem acima da lei. Os fatores ‘sítio’, ‘reforma’, ‘pedalinhos’, ‘mudança’ e pequenas fezes do gênero são financeiramente irrelevantes em se tratando de alguém tão importante na história política do país. Os presentes que ele, ao que tudo indica, aceitou, poderiam muito bem ter sido adquiridos licitamente. Lula foi traído pelo seu ego. Aliás, na opinião desse leigo que vos fala, esse caso específico de Atibaia tem muito mais de imoralidade que ilegalidade.

Quanto às aparentes maracutaias (palavra outrora tão utilizada pelo líder petista) envolvendo o Instituto Lula e os negócios obscuros envolvendo os familiares do ex-presidente, a coisa fica bem mais complicada.

Eles, Dilma e Lula, sabiam? Aliás, a pergunta que deve ser feita é: Quem não sabia? Essa vocação para pilantragem sempre foi entoada, até com certo orgulho, do Oiapoque ao Chuí, desde os primórdios tupiniquins. A diferença é que o PT foi alçado ao poder pautado por um discurso moralizador. Era a chance de mudar o rumo das coisas nesse país... Muitos outros roubaram e ainda roubam? Sim, mas ‘de padres esperamos castidade’. 

A lógica do PT moderno se baseia no princípio mais famoso de Maquiavel... O plano para o país era bom, justo, tirou muita gente da miséria e proporcionou inclusão em várias esferas a quem historicamente sempre esteve à margem. A derrocada do PT foi ter pensado que valia (e podia) qualquer coisa pra se manter no controle.

A engrenagem diabólica que foi formatada para financiar essa bandalheira toda é algo assustador, principalmente quando falamos de um partido fundado para brigar pelo que era correto.

Já votei no Lula, já votei no PT e confesso que quando vi aquele senhor de barba branca sendo conduzido para um interrogatório, fiquei muito mais constrangido do que qualquer outra coisa. Era o ex-presidente do meu país, uma pessoa que indiscutivelmente lutou muito para fazer algo importante e que se deixou seduzir pelos afagos do poder. Nada mais tosco. Nada mais brasileiro.

Ao analisar a linha sucessória para o Planalto e ao vislumbrar mais à frente as opções que temos para conduzir os rumos da nação, temos um cenário não menos desesperador.

Aos amigos que ainda estão naquela de se portar como se soubessem mais do que realmente sabem, tipo ‘sou politizado e estou do lado de quem lutou por um Brasil melhor’, minhas condolências. O sonho acabou.

O único alento nessa tragédia toda é a postura de determinados órgãos controladores, fiscalizadores, repressivos e alguns setores da justiça, que parecem ter resolvido dar o exemplo partindo de cima. Isso é inovador em termos de Brasil. Com a investigação e a justa punição de grandes tubarões, a tendência é que a picaretagem fique mais inibida.

Não menos patético é ver quem sempre se utilizou das mesmas práticas desprezíveis aparecer como salvador da pátria.

O estrago causado pelos deslizes petistas começam a abrir espaço para ultra radicais e malucos de toda sorte que, se chegarem ao poder, vão pavimentar um retrocesso tão absurdo que dá preguiça até de pensar em qualquer coisa relacionada ao futuro do nosso país. É desolador.

Que ao menos nossas instituições continuem a se fortalecer, que esse ‘sistema’ esdrúxulo possa ser revisto e que o Brasil possa ser, ao menos, governável.

O mínimo que pedimos são governantes honestos.

As jogadas políticas que estão se desenhando são dignas da ficção. Já estou curioso para acompanhar os próximos capítulos da saga dos icônicos personagens Luiz Inácio Lula da Silva (cá) e Frank Underwood (acolá).

E para os viajantes que pensam que não vai ter golpe, eu digo que o golpe já foi dado e foi uma punhalada letal na esperança do brasileiro. Naquela mesma esperança que tinha vencido o medo.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A LISTA DE CROWLEY



Muitos ficaram chocados com a lista das 100 ‘músicas’ mais tocadas de 2015 nas rádios brasileiras auferidas pela CROWLEY (empresa que monitora a programação musical das emissoras)... Eu não. Admito que a goleada sofrida pelo rock/pop foi tão acachapante quanto o 7x1, mas não fiquei surpreso com esse disparate.

Junte aproximadamente duas décadas de emergência econômica devidamente não acompanhada por emergência intelectual e temos duas gerações de uma população desqualificada para entender qualquer proposta além das que lhe são oferecidas pela grande mídia. O mais aterrador é que esse mesmo público atualmente dita os rumos do que é assumido como produto de sucesso pelo mercado, com suas hashtags estranhas e seu comportamento superficial, volátil. Ciclo-vicioso clássico. Ou seja, ficamos submetidos à influência de pessoas/fakes/robôs que ficam replicando nulidades nesse ambiente hostil e contraditório que é a internet. A conclusão óbvia que tiramos é que esse dito ‘sucesso’, embora visível, está fundamentado em bases não confiáveis.  

Pelo número de pessoas se dizendo indignadas com o resultado da tal lista, arrisco-me a dizer que o público de rock não é pequeno. Esse público terá sido esquecido? Ou encontra-se adormecido, ou está enfurnado em guetos, ou padece de pijama em casa? Enfim, o fato é que ele existe e está espalhado por aí. Quem saberá encontrá-lo? Quem poderá seduzi-lo? É só observar as multidões que pagam caro para assistir shows de grandes nomes do rock mundial para enxergar o óbvio.

Em um texto que publiquei nesse mesmo blog em 2012, alertei o que estava por vir.

http://henriquepapatella.blogspot.com.br/2012/10/o-mercado-da-musica-no-brasil.html

Naquela época a situação já era insustentável. Aliás, há quem diga que em meados da década passada a batalha já estava perdida... Mas, posto isso, ao menos numa suposição intuitiva podemos nos agarrar: É impossível que a situação piore! Chegamos ao fundo do poço do que podemos denominar ‘mercado comercial de música’ no Brasil, em termos qualitativos. Eu nem chamaria de mercado fonográfico ou mercado musical, pois o que assistimos e ouvimos estarrecidos tem muito mais a ver com entretenimento/comércio do que com arte/música.

Talvez esse cenário catastrófico possa ser interpretado de forma diferente se conseguirmos responder a seguinte pergunta, de forma objetiva: Quem ouve música em rádio hoje em dia? Eu não. E quando me aventuro nessa façanha, o que ouço, na maioria das vezes, são programas humorísticos, esportivos, de variedades, de celebridades, feitos na medida para agradar a uma multidão semi imbecilizada. Quando toca música, são mutiladas e dificilmente ultrapassam dois minutos e meio. As rádios se tornaram prateleiras, como as dos supermercados. Elas vendem produtos. A exceção são as emissoras segmentadas que tocam músicas para públicos distintos. Essas rádios, tanto na internet, quanto no dial, são apreciadas pela maioria das pessoas com as quais convivo. Algumas estações são até bem legais. É bem provável que o público específico do rock não ouça a maioria das rádios que formam essa famigerada lista.

Falando do público em geral, da massa mesmo, diria que essa ‘galera’ topa qualquer coisa. Portanto, se amanhã o rock voltar às emissoras de grande visibilidade, o povão vai entrar na onda. Talvez não por uma questão de qualidade, mas por costume, moda. Embora algumas personalidades dignas de respeito digam que não se importam com a opinião da massa, eu me importo. O crivo popular tem sua importância, senão nem estaríamos falando disso. Acho perfeitamente possível que uma mesma música converse com a intelectualidade e com o populacho. Legião era assim. Raul também. Skank, O Rappa e vários outros artistas mais atuais também tem esse alcance com pessoas de todas as castas e nichos. Mas eles não estão no clube dos 100 de 2015... E daí? Cá pra nós, você realmente conhece 50% dessas músicas que estão nessa lista?

A rádio é um dos veículos mais emblemáticos. São concessões, mas cobram pelas propagandas. OK, toda empresa tem que pagar suas contas e faturar, mas qual é a contrapartida social que elas oferecem por serem concessões? TV´s também podem ser inseridas nesse contexto. O poder de democratizar essas frequências passa pelo bom senso dos donos das emissoras, editores, programadores, apresentadores, locutores e essa responsabilidade deve ser levada a vários outros ambientes midiáticos. Alguém já deve estar pensando em velhos clichês como ‘a voz do povo é a voz de Deus’ ou ‘o dinheiro é quem manda’, mas será que o povo não erra? Será que qualquer dinheiro é bem vindo? Reza a lenda que o que tem de ‘empresários’ lavando dinheiro sujo em escritórios musicais populares é uma fartura... Segundo corre a boca pequena, até dinheiro do tráfico tem se transformado em ‘sucesso’ musical. Aí a briga fica desigual...

Houve um tempo em que veículos da grande mídia e do ‘sistemão’ musical brasileiro sentiam prazer em apresentar a música enquanto arte. Havia até um certo pudor para que o nível artístico fosse o mínimo aceitável. Deixando o purismo de lado, sempre houve na mídia propostas musicais esdrúxulas que também deram certo e agradaram milhões em outros tempos, mas essas eram as exceções e não a regra. Hoje parece existir um pacto implícito de que quanto pior melhor, até em outras esferas não musicais. Estamos vivendo uma era esquisita.

Também acho que imputar a salvação da música no Brasil ao rock, como várias figuras excêntricas insistem em dizer por aí, é totalmente equivocado. Tem um monte de banda de rock ruim, assim como existem artistas de outros estilos que são competentíssimos e merecem o sucesso que fazem.

Legal seria se a pluralidade cultural brasileira, tão decantada em tese, pudesse ser vivenciada na prática.

Numa época de caos, em meio a toda essa esquizofrenia generalizada que nos deixa atônitos, chego ao fim desse texto me indagando se esse tema seria supérfluo. Talvez a música tenha se tornado algo supérfluo e alguns nós não tenhamos percebido.

A LISTA DE CROWLEY parece querer nos propor uma associação do momento do país com a música aqui propagada atualmente... Curioso.

Despeço-me com três frases candidatas a trend topics de gueto, já que um dos nossos esportes preferidos na atualidade é o arremesso de frases de efeito com viés moralista simplista pseudo politizado:
# ABAIXO A SEGREGAÇÃO MUSICAL!
# QUEREMOS COTAS PRA ROCKEIROS!
# FORA SANFONA!


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DO CAOS À LAMA



Deu errado, admitamos. O Brasil, desde a sua fundação, é um equívoco.

Refugiamo-nos em pequenas ilhas de bonança, mas vivemos acossados por oceanos gigantescos de tempestade. Sempre assim, há tempos.

Devemos considerar a hipótese de que o problema, em geral, é a raça humana. Mas, no mesmo planeta, existem brasis, dinamarcas, sírias, coréias e haitis diversos. Então, talvez tenhamos de reconhecer que alguns de nós, humanos, são mais capazes que outros. Ainda assim, a conta não fecha. Literalmente. Afinal, estamos vagando, juntos, universo afora.

Embora aparentemente não resolva, que tal nos aventurar a pensar livremente por alguns breves instantes?

Se conseguirmos expandir nossa capacidade de observação, vamos encontrar semelhanças curiosas entre alguns espécimes muito em voga atualmente: políticos, jihadistas, mega empreendedores... São ousados, sagazes, frios... Se forçarmos a barra um pouquinho, nossa amostragem aumenta. Certamente, poderíamos até nos reconhecer nesse balaio de gato. Mas, devido ao vício endêmico que temos em tirar o nosso da reta, sugiro nos ater inicialmente aos ‘escolhidos’. Pau neles.

Em algum momento da história e fazendo esforço para analisar o cenário pelo lado bom, os citados tentaram fazer a diferença. Com sua ideologia, energia, ufanismo, perseverança e munidos de outros adjetivos, houve um tempo em que essa turma quis mudar o mundo para melhor. Cada um a seu modo, óbvio. Alguns passos, reconheçamos, foram dados rumo a um norte positivo. Afinal, não existe nada de errado em buscar uma sociedade mais justa, equilíbrio espiritual ou desenvolvimento (com sustentabilidade). Num dia remoto de um novembro qualquer existiram boas intenções. Mas nessa equação habita um fator que sempre subverte resultados... O bicho-homem!

Alguns foram ficando ricos, outros pobres. Causas foram ficando mais particulares que plurais. Alguns deram sorte, milhares tiveram azar.  Vieram as insatisfações e interesses diversos. Em suma, onde existe a tríade macabra formada por ‘homem, dinheiro e poder’, existem problemas. Indissolúveis. Lamento.

Eles não vão sossegar enquanto não destruírem tudo. É o instinto humano.

Mas eis que surge a pergunta tão sutil quanto um murro no queixo: quem faria diferente mediante as mesmas provações e conjunturas?
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Não se ofendam, meus caros, mas quase ninguém é inocente. Tamanha estupefação é hipocrisia. Via de regra, tanto o Brasil quanto o mundo funcionam dessa forma desde que se tem notícia. Onde todos estávamos até agora?

Quem nunca votou naquele que ‘rouba, mas faz’? Quem nunca foi preconceituoso e radical? Quem nunca quis usufruir dos benefícios de uma grande empresa por perto (mas não no próprio quintal)? Quem nunca?

Contradições.

Nossa velha ganância está cobrando seu preço.  Nosso secular egoísmo nos cegou. Nosso tradicional jeitinho é uma farsa. Jeitinho nojento.

O furor da mídia e as hashtags passam. O que fica?

Ficam corpos sedimentados não encontrados nas encostas de rios mortos.

Ficam meras lembranças de corpos destroçados pelo terror em ruas iluminadas.

Ficam corpos moribundos em macas improvisadas.

Ficam os corpos. Lá e cá.

Desolação.

Também não existe conclusão, pois cada um tem seus motivos, com o perdão do lugar comum. Até daria para suspeitar que uma mudança seria possível a partir do nosso âmago, mas é demais custoso para o momento admitir nossa porção de culpa. Será que conseguiremos fazer algo além de selfies e desabafos?

Que país é esse? Que mundo é esse em que vivemos? Quem somos?

Parece que restaram algumas frases visionárias apropriadas para o momento... Quem dera músicas bastassem para aliviar a alma.


Da lama ao caos, do caos à lama.  

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

ROCK IN RIO DE SANGUE REAL!

O ROYAL BLOOD provou que o Rock in Rio ainda pode ser inovador e surpreender as pessoas. Mas desse duo britânico vou falar mais adiante.

O caráter de realeza do festival já estava previsto desde o anúncio do QUEEN na noite de abertura e foi emocionante ouvir todas aquelas músicas grandiosas, mesmo tendo sido cantadas por outra voz... E que voz! O misógino Adam Lambert pode até ser meio inadequado ao rock, e digo isso após ter ouvido um single recém-lançado do cantor, mas o talento e o magnetismo do cara são inquestionáveis. Nem precisava ser tão belo...

SYSTEM OF A DOWN e METALLICA também reinaram, como de costume. Esses dois ícones do heavy fizeram ecoar nos trópicos alguns dos maiores hits do gênero, tanto antigos no caso do Metallica, quanto novos no caso do SOAD. Simplesmente sensacionais. Queens of the Stone Age, outra banda com denominação nobre, produziu um som impecável e não consegui me desgrudar da TV. Motley Crue também não decepcionou, em que pese terem usado duas ‘backing vocals’ coreografadas no melhor estilo ‘É o Tchan’.

Com sua energia avassaladora e visual perturbador, o SLIPKNOT me causa a impressão de estar forçando a barra com esse lance de rock horror. O exagero torna esse contexto meio bobo. Corey Taylor continua mandando bem, mas o show foi mais caótico do que consigo compreender. Faith no More, que eu estava muito afim de ver, foi chato.

Outra nota destoante foi aquele monte de ‘canjas’ avacalhadas e mal executadas protagonizadas por vários figurões da música brasileira e internacional. Deviam ao menos ensaiar, pois alguns números foram constrangedores. Para salvar a pele dos brazucas, Lulu Santos mostrou sua habitual competência e a blasfêmia de levar o Mr. Catra ao palco mundo foi, de certa forma, minimizada.

A velha e a nova guarda do pop foram bem representadas por Elton John, Rod Stewart e Sam Smith. Achei mais legal a Baby Consuelo cantando do que Katy Perry e Rihanna. Aliás, apesar do sucesso comercial que essas divas pop trazem ao evento, acho essa onda fake ao extremo.

Vou falar agora de boas surpresas começando pelo MAGIC! Essa banda de reggae pop canadense, que ninguém dava muito por ela, foi perfeita ao vivo. Ótimas músicas, ótimos músicos e uma pegada moderna contagiante, que soa digerível, mas que também remete ao The Police em vários momentos. Curti.

Mas bom mesmo foi o ROYAL BLOOD. Muito doido o show dos caras. Confesso que nunca tinha ouvido falar e quando vi uns meninos entrando em cena pensei: Lá vem outro White Stripes cult... Ledo engano. A dupla, embora aparente ter a influência do Jack White em seu som, faz riffs que lembram mais o Black Sabath nos áureos tempos. Para quem gosta de comparar, senti alguma coisa de Muse no som deles, mas indo em outra direção. O vocalista e baixista Mike Kerr usa efeitos e toca de uma maneira tal que torna dispensável o uso de um guitarrista na banda... O baterista Ben Thatcher funciona como um reloginho e espanca seu instrumento sem dó. Os garotos impuseram seu som para milhares de pessoas e mostraram aos que tem o rock como estilo em decadência que a coisa não é bem assim...

Aliás, mesmo com essa realidade mercadológica musical catastrófica no Brasil, o Rock in Rio bombou. De novo. Assim como sempre bombam outros festivais bem organizados como o Lollapalooza, Monsters of Rock e afins...

Sempre quando algum artista de outro gênero ou mesmo celebridades de segmentos distintos querem ‘melhorar’ sua imagem, eles recorrem ao imaginário rockeiro com tatuagens mirabolantes, roupas que insinuam atitude e sex apeall... Curioso isso.

O rock não ‘santifica’ ninguém. Aliás, muito pelo contrário. Mas, clichês à parte, recorro a um ditado popular bastante adequado para o momento:
‘QUEM FOI REI NUNCA PERDE A MAJESTADE!’

Vida longa ao Rock in Rio! VIVA O ROCK!

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PRA FAZER SENTIDO

A última tour do KISS acaba de passar pelo Brasil e deixará saudades. Algo me diz que Paul, Gene e sua turma não voltarão ao país do samba... A gente fica procurando sentido pras coisas e vez por outra até encontramos.

Fez o maior sentido pra mim ir ao show dos meus ídolos acompanhado de quem me iniciou no rock: Minha mãe. A mulher que deu minha primeira (e única) guitarra, uma Golden toda enfeitada, ficou ao meu lado enquanto víamos (muito) e ouvíamos (pouco) os caras que ela ficou conhecendo tão bem quanto eu.

Meus vinis do KISS ainda estão em nossa casa, guardados como relíquia, e sua execução avassaladora nos remotos anos 80 tornaram minha mãe uma grande fã dos caras. E ela gosta mesmo. Cantamos juntos ‘I love it loud’, ‘Detroit rock city’, ‘Rock and roll all nite’ e mais uma tonelada de hits da maior banda de rock de todos os tempos, ao menos pra mim.

Com a Vovó Maúcha ao meu lado, reencontrei velhos e queridos amigos naquela noite antológica no Mineirinho, que não estava tão cheio, mas pulsando como jamais tinha visto. E olha que eu vivenciei dezenas de eventos ali...

O show marcado para as 21 hs começou as 21:02 e me dei conta do que é ser profissional num evento daquele tamanho. No Brasil, nesse em vários outros segmentos, a coisa não funciona assim. Mas, não estou aqui para sublinhar nossas mazelas e complexos novamente. E digo mais: até quando erra, o KISS doutrina. O show não foi perfeito, mas e daí?

Pulei feito um baixinho no show da Xuxa e ficava abraçando a Maúcha, berrando aqueles refrões poderosos ao seu ouvido! Ela flertava comigo de rabo de olho e eu pude perceber o quanto estava se divertindo. Foi mágico. A turba dos camisas preta a todo momento paravam-na e a cumprimentavam pela disposição e ela, como uma rainha septuagenária do rock, aceitava a corte com elegância.

Paul Stanley voou pela plateia, Gene Simmons cuspiu fogo e sangue. Explodiram bombas de todos os modos possíveis. A cena que se cria no show do KISS, pra quem não conhece, lembra um sensacional sonho (ou pesadelo...) psicodélico de cores, fumaça e barulho.

Já disse por várias vezes que o outono me deixa nostálgico e melancólico, mas não triste. Inclusive, esse tema será música em breve.

Minha MÃE, o KISS, o ambiente, me levaram ao encontro de lembranças incríveis e naquela noite tudo fez sentido novamente.

É muito bom ter mãe e melhor ainda ter mãe rockeira.

VIVA O ROCK, VIVA MINHA MÃE! GOD GAVE ROCK AND ROLL TO YOU!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

NUMA BELA MANHÃ QUALQUER

Numa bela manhã qualquer, você vai pegar um voo de Barcelona para Düsseldorf. Você está feliz e afasta aquela ideia que sempre vem à cabeça quando pisa num aeroporto: “Será que essa merda vai cair comigo dentro?”

Você está a trabalho, ou a passeio, ou numa excursão, ou vai curtir algum show bacana, não importa. Você entra no avião, é cumprimentado pela tripulação com aqueles sorrisos formais e uma simpatia meio artificial, mas faz parte. Qual o problema?

Você vai voar numa companhia alemã, robusta e organizada, mas ainda assim, quando assume o assento e afivela o cinto de segurança, aquela ideia volta a te rondar e você questiona a tecnologia pensando: “Como um bicho desse tamanho pesando toneladas pode se sustentar no ar?”

O avião decola. Pela janela você vê a Europa de cima. Toda cultura, toda história, o mundo foi pensado ali. Lá embaixo aqueles vilarejos bucólicos e os alpes franceses se apresentam como uma dádiva da natureza. Tudo parece bem e sua vida volta a fazer sentido por uns breves momentos. Você tem planos.

Você talvez seja músico e por vezes já pensou: ”E se um dia algum maluco resolver me dar um tiro em cima do palco?” Mas, essa possibilidade é tão remota quanto um avião despencar do céu. Seria quase um prêmio de loteria às avessas. Você repudia aquela ideia novamente.

De repente, você percebe que alguma coisa pode não estar certa... Pelo monitor a sua frente você constata que a altitude da aeronave começa a diminuir vertiginosamente. Você indaga: “Por que estariam batendo na porta da cabine do piloto e gritando dessa forma?”

À sua volta, olhares atônitos cruzam o seu. Você conclui o que está acontecendo.

Em outras ocasiões você já tinha conjecturado se os pilotos do avião em que estava tinham dormido bem, ou se estavam em paz com seus ‘demônios’. Afinal, ali em cima você não tem muita escolha. Nem saída.

Tudo vem à tona nos momentos finais.

Você pensa na sua família, naquela música, em tudo que poderia ter sido e não foi.

Após uma pequena prece e com uma lágrima brotando do olho esquerdo, você chega às suas três últimas conclusões nessa vida:

“Que porra de mundo insano é esse em que vivi!”
“Todos estamos nas mãos de malucos de toda ordem”.
“Hoje não foi meu dia de sorte”.